As atuais iniciativas de restauração ecológica na Bacia do Rio Doce — que abrange os estados de Minas Gerais e Espírito Santo — podem não ser eficazes a longo prazo caso os cenários futuros de mudanças climáticas não sejam considerados. O alerta é de uma pesquisa conduzida pelo Laboratório de Ecologia e Conservação de Ecossistemas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), publicada na revista científica internacional Ambio.
O estudo aponta que o aumento da erosão causado pelas mudanças no clima pode intensificar o carreamento de sedimentos para os rios, comprometendo seriamente a qualidade da água e a segurança hídrica de aproximadamente 2,2 milhões de pessoas que dependem da Bacia do Rio Doce.
Desenvolvido no mestrado do biólogo Luiz Conrado Silva, o trabalho utilizou a metodologia InVEST (Avaliação Integrada de Serviços Ecossistêmicos), da Universidade de Stanford, sob orientação da professora Aliny Pires. A pesquisa analisou como a restauração da vegetação nativa nas margens dos rios, prevista pela Lei de Proteção da Vegetação Nativa (2012), influencia a qualidade da água em diferentes cenários climáticos projetados até o ano de 2070.
Rompimentos de barragens e o impacto na bacia
A devastação ambiental provocada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015, e o posterior desastre em Brumadinho, em 2019, agravaram ainda mais a fragilidade ambiental da região. As consequências desses eventos, incluindo mortes, perdas humanas e danos aos ecossistemas, colocaram a bacia do Rio Doce no centro das discussões sobre reparação e restauração ambiental.
Resultados e recomendações
A pesquisa mostrou que as áreas degradadas da porção alta da bacia, mesmo que em menor número, podem gerar um volume expressivo de sedimentos com o aumento das chuvas previsto para os próximos anos. Em algumas sub-bacias, como a do Rio Santo Antônio, a exportação de sedimentos pode chegar a 500 mil toneladas por ano. Nesses casos, apenas restaurar as margens não será suficiente — será necessário ampliar significativamente as áreas de intervenção.
A restauração ecológica, segundo os pesquisadores, deve ir além do replantio em áreas ripárias. A conservação de áreas já preservadas, frequentemente negligenciadas, também deve entrar no foco das ações. A professora Aliny Pires reforça que a criação de unidades de conservação nessas regiões pode gerar benefícios duradouros para toda a bacia.
Protocolo replicável
Mais do que uma crítica às ações atuais, a pesquisa propõe a complementação das estratégias já em andamento, oferecendo uma metodologia que pode ser replicada em outros ecossistemas degradados do Brasil e do mundo.
A intenção agora é mobilizar gestores públicos, autoridades ambientais e demais envolvidos na reparação da Bacia do Rio Doce, para que os dados científicos possam subsidiar a tomada de decisões mais eficazes, duradouras e adaptadas à realidade climática do futuro.
A TV Regional acompanha de perto o debate ambiental no Espírito Santo e Minas Gerais, e reforça a importância do conhecimento científico como base para políticas públicas sustentáveis.
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