“Violência nas Escolas” foi o tema debatido na segunda Reunião Extraordinária da Comissão de Educação da Câmara de Vitória, realizada nesta terça-feira (03/06), no Plenário Maria Ortiz. Presidida pelo vereador Leonardo Monjardim, o evento recebeu como convidados: o Major Eliandro Claudino de Jesus, do Programa Patrulha Escolar da Secretaria de Educação do Estado; a especialista em Neurociências e Educação, Kelly Lopes, psicanalista, pedagoga e arteterapeuta; a vereadora de Vila Velha, Adriana Meireles, ex-secretária de Educação, e o advogado Carlos Alessandro Silva, especialista em Direito Educacional.
O primeiro palestrante foi o Major Eliandro Claudino de Jesus, do Programa Patrulha Escolar da Secretaria de Educação do Estado. “O termo que temos trabalhado, e cujos dados vamos apresentar no telão, é o Dilema da Internet”, iniciou, acrescentando que sua experiência vem também da Companhia Independente de Polícia Escolar da Grande Vitória que envolve escolas públicas e privadas.
Segundo ele, a problemática da violência nas escolas, no âmbito do dilema da internet, está no bojo de grupos de repercussão internacional envolvidos com práticas criminosas que constituem um fenômeno complexo. “Nos deparamos com situações que não são envolvidas só contra a escola, mas que a atingem como um ambiente vulnerável. No cenário nacional, o aumento de ataques em escolas se deu a partir de 2001”.
O Major apresentou inúmeros relatos que estão sendo trabalhados. “No ano passado protegemos três escolas de ataques que supostamente iam acontecer”, lembrou. Nestes casos, estudantes fizeram ameaças prévias e foram detectados com armas. “Não é o caso de dar alarde, mas é preciso falar do tema, pois só com o conhecimento podemos evitar tragédias”, observou, citando que um aluno, em Guarapari, trazia na mochila uma arma com 34 munições. “Só não aconteceu uma tragédia porque ele foi detido antes”, enfatizou o Major Eliandro. “E todos eles sofreram um sistema de cooptação na internet”.
Outro exemplo citado foi o de Aracruz, onde um adolescente de 16 anos tirou a vida de quatro professores e outro aluno. Segundo o Major, este e outros 41 casos oficialmente registrados ocorridos no país tiveram início na internet. “Que fenômeno é esse? 78% desses eventos são relacionados a bullying, mas todos envolvem a Internet e sistemas de cooptação”, reafirmou, ressaltando a importância de espaços para oferecer essas informações como de extrema importância.
“o Jogo em si não traz tanto problema, mas o fato de ser online, onde os alunos são cooptados em três fases. Pesca, em que adultos se passam por adolescentes buscando crianças com tendências violentas. Gênesis, com o convite para fóruns sobre jogos onde são identificados adolescentes com a inclinação para vários tipos de violência. E, no terceiro estágio já são incluídos em Planos, com vários atos de violência, como os cometidos contra as escolas”.
O Major foi enfático. “Antigamente o quarto era o lugar mais seguro para uma criança. Hoje, se houver um acesso à internet, pode ser um dos locais mais perigosos”, afirmou o Major, que citou exemplos de problemas locais.
No final de sua enriquecedora participação, o Major reforçou a necessidade do uso de controle parental, da responsabilidade da família, da importância da preparação das escolas e das autoridades. “Temos o dever de proteger essas crianças e adolescentes”.
Comunidade Escolar – O Dr. Carlos Alessandro Silva, especialista em Direito Educacional, abordou a importância de fomentar protocolos que sejam formalizados para que as escolas sigam no enfrentamento dos casos de violência. “Precisamos entender a responsabilidade das escolas, que não podem ficar omissas em caso de ameaças e as famílias precisam ficar atentas aos seus filhos, crianças e adolescentes. Precisamos estar preparados, a comunidade escolar, com apoio a autoridades para enfrentar os vários casos que surgem”, enfatizou.
A especialista em Neurociências e Educação, Kelly Lopes, psicanalista, pedagoga e arteterapeuta lembrou que os cooptados “são crianças e adolescentes que enfrentam o vazio da solidão mesmo acompanhados, e que são seduzidos pela internet”. Ela observou que as famílias deixaram de cumprir seu papel, de dar boa noite a seus filhos, de rezar com eles. “Há uma sociedade vazia que esqueceu os valores. Há atitudes que não podem ser mudadas por causa da tecnologia”, pontuou.
“Se o seu filho está conectado, o seu filho está em risco”, alertou, acrescentando que muitas famílias, mesmo informadas, não cumprem suas responsabilidades. E defendeu a necessidade de Conselheiros Tutelares preparados para lidar com as demandas da sociedade atual, entre outros aspectos.
A vereadora Adriana Meireles, de Vila Velha, ex-secretária de Educação, tem projetos aprovados nesta área e reforçou a importância da participação da família na educação dos filhos. “Como mãe, sabemos que temos responsabilidadeS. Nossos professores precisam de socorro. A Educação precisa de representantes nos parlamentos. Se em cada Câmara um parlamentar assumir esta causa e unir forças com a sociedade podemos mudar essa realidade”.
A vereadora Ana Paula Rocha, professora da rede estadual e da municipal de Aracruz, lembrou da violência ocorrida naquele município, que resultou em quatro professoras conhecidas mortas, além de um adolescente. “Há uma tentativa de inviabilizar o caso e acho que é preciso debatê-lo. Esse tipo de violência é um ataque frontal à escola. É preciso pensar os elementos que levam a esta situação: o discurso de ódio. As redes sociais trouxeram essa violência para dentro de casa e destacou que não há saídas fáceis”. A vereadora defendeu o acréscimo da gestão democrática das escolas e boas condições de trabalho como fatores necessários para a solução do problema.
O vereador Leonardo Monjardim centralizou sua manifestação na defesa de vários pontos necessários ao ordenamento social, e centralizou sua participação ao elogiar os pronunciamentos dos convidados e na defesa das escolas cívico-militares. “Eu acredito neste modelo para direcionar essas crianças para um futuro certo”, afirmou, encerrando o evento com a entrega de Diplomas de Honra ao Mérito para os convidados.
Texto: Mágda Carvalho
Fotos: Ludmille Lima e Will Morais
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